Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre os sócios, conselhos de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. Investir nesse setor permite a organização preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum.
O sócio da Ockam, empresa de estratégia, consultoria e implementação de iniciativas voltadas para o desenvolvimento organizacional e transformação cultural, Fernando Goes, defende que “em relação à penetração da governança corporativa no espectro das empresas brasileiras, ainda a espaço para muita evolução”. “Existem muito mais empresas no Brasil que se beneficiariam de um sistema de governança do que as que têm isto implementado”, argumenta Goes.
JC Contabilidade – Quais são as principais tendências na governança mundial?
Fernando Goes – As principais tendências da governança mundial são foco e um olhar mais acurado na exposição de riscos da empresa, maior empoderamento e diversidade nos conselhos de administração. No caso de empresas familiares, é comum utilizarem a implementação da governança para profissionalizar o negócio. Além disso, maior foco e atenção dos conselhos às questões relacionadas ao capital humano da empresa e, devido ao cenário de grandes transformações que o mundo passa, os conselhos tendem a se reunir em um menor espaçamento de tempo para estarem mais próximos do negócio.
JC Contabilidade – O Brasil está em consonância com as práticas internacionais?
Fernando Goes – Na aplicação dos conceitos e das boas práticas de governança, o Brasil está bastante atualizado, e tende a seguir o modelo inglês. Já em relação à penetração da governança corporativa no espectro das empresas brasileiras, ainda há espaço para muita evolução se nós compararmos ao primeiro mundo. Existem muito mais empresas no Brasil que se beneficiariam de um sistema de governança do que as que têm isto implementado.
JC Contabilidade – Como as empresas podem implementar uma boa governança?
Fernando Goes – Não existe um manual ou guia prático, até porque os desejos e necessidades das empresas são particulares e únicos. Mas algumas condições precisam estar presentes para que a implementação de um sistema de governança seja eficaz e bem-sucedido, a saber; vontade genuína e compromisso verdadeiro dos acionistas; entendimento e adesão da alta liderança que haverá um novo balanceamento de poder nas decisões; um olhar muito mais para o futuro do que para o presente; abertura de todos os stakeholders para novas ideias e novos jeitos de fazer; profundidade nos conceitos e nas práticas por quem vai liderar a implementação e compromisso de todos com o processo e com a possibilidade de lidar com reconhecimento de que a empresa precisará desenvolver novas competências ou nova abordagem sobre sua estratégia.
JC Contabilidade – A governança é a melhor alternativa para a perenidade dos empreendimentos familiares?
Fernando Goes – Sim, porque competência, visão e capacidade empreendedora não estão no DNA de uma família, nem podem ser assegurados com o passar das gerações. Além do fato de que os empreendimentos, muitas vezes, tornam-se maiores – o que não quer dizer mais importantes – do que as famílias.
JC Contabilidade – É importante contar com um coaching em processos de implementação da governança na empresa?
Fernando Goes – Ajuda muito. Ter um profissional isento, que traga um olhar independente, e que tenha uma atuação focada no desenvolvimento do sistema e dos seus stakeholders é vital. Como trata-se de um processo que envolve perdas (iniciais), desapego e, às vezes, dores profundas, passa a ser muito importante para o sucesso da implementação um coach que possa dar apoio e suporte, e que a todo tempo esteja lembrando o propósito e o objetivo maior de um processo como este.